Inferno astral

Estou completamente exausta.

Se eu pudesse voltar no tempo e encontrar a Renata de 15 anos de idade, eu diria a ela: “Não gaste tanto tempo e energia em graduações e especializações. Elas não vão proporcionar o que você imagina. Venderam a ideia de que o conhecimento garantiria um bom salário, mas a realidade é diferente. Viva a sua vida, aproveite seus amigos e sua família. Esteja presente em cada momento.”

A minha versão de 35 anos está passando por uma crise que não experimentei aos 25. Uma constante dúvida paira sobre mim: “Isso tudo vale a pena?” Cheguei a um ponto em que parece que estou muito atrasada, é quase impossível acompanhar as expectativas das empresas em relação a um designer. Alguns anúncios de emprego exigem habilidades que até o Superman teria dificuldade em cumprir, e tudo isso por um salário medíocre. Se soubesse que três graduações e um MBA não seriam suficientes para conseguir um trabalho de nível júnior, não teria passado por todas essas provações, afastada da minha família, fazendo horas extras e escrevendo monografias complexas. Qual é o sentido de ter todo esse histórico se tenho que lutar arduamente por um emprego que mal paga meu aluguel?

Se soubesse que aos 35 anos não estaria nem perto de comprar minha própria casa, que não poderia passar o Natal com minha família, teria pensado duas vezes. E mesmo a ideia de voltar para o meu país de origem não é uma opção viável, já que a situação lá é ainda pior do que aqui. Sinto-me encurralada, presa nesse buraco, e não parece que vou melhorar muito, mesmo se conseguir um emprego. Será uma vida de pagar contas e economizar. Qual é o propósito de tudo isso?

Estou exausta dessa ideia de ter que lutar como um cão para obter o mínimo. A tal meritocracia é uma farsa. Estou cansada de sentir que preciso ser excelente em tudo apenas para manter-me à tona. Venderam-me a ideia equivocada de que para ter uma boa vida, é preciso fazer terapia, exercitar-se, encontrar equilíbrio, ter um propósito, e tudo isso me cansa só de pensar. As coisas deveriam ser mais fáceis, fluir naturalmente na vida. Sei que quem eu sou é suficiente para o universo, mas, infelizmente, não para essa lógica capitalista de produção financeira do inferno.

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