Inferno astral

Estou completamente exausta.

Se eu pudesse voltar no tempo e encontrar a Renata de 15 anos de idade, eu diria a ela: “Não gaste tanto tempo e energia em graduações e especializações. Elas não vão proporcionar o que você imagina. Venderam a ideia de que o conhecimento garantiria um bom salário, mas a realidade é diferente. Viva a sua vida, aproveite seus amigos e sua família. Esteja presente em cada momento.”

A minha versão de 35 anos está passando por uma crise que não experimentei aos 25. Uma constante dúvida paira sobre mim: “Isso tudo vale a pena?” Cheguei a um ponto em que parece que estou muito atrasada, é quase impossível acompanhar as expectativas das empresas em relação a um designer. Alguns anúncios de emprego exigem habilidades que até o Superman teria dificuldade em cumprir, e tudo isso por um salário medíocre. Se soubesse que três graduações e um MBA não seriam suficientes para conseguir um trabalho de nível júnior, não teria passado por todas essas provações, afastada da minha família, fazendo horas extras e escrevendo monografias complexas. Qual é o sentido de ter todo esse histórico se tenho que lutar arduamente por um emprego que mal paga meu aluguel?

Se soubesse que aos 35 anos não estaria nem perto de comprar minha própria casa, que não poderia passar o Natal com minha família, teria pensado duas vezes. E mesmo a ideia de voltar para o meu país de origem não é uma opção viável, já que a situação lá é ainda pior do que aqui. Sinto-me encurralada, presa nesse buraco, e não parece que vou melhorar muito, mesmo se conseguir um emprego. Será uma vida de pagar contas e economizar. Qual é o propósito de tudo isso?

Estou exausta dessa ideia de ter que lutar como um cão para obter o mínimo. A tal meritocracia é uma farsa. Estou cansada de sentir que preciso ser excelente em tudo apenas para manter-me à tona. Venderam-me a ideia equivocada de que para ter uma boa vida, é preciso fazer terapia, exercitar-se, encontrar equilíbrio, ter um propósito, e tudo isso me cansa só de pensar. As coisas deveriam ser mais fáceis, fluir naturalmente na vida. Sei que quem eu sou é suficiente para o universo, mas, infelizmente, não para essa lógica capitalista de produção financeira do inferno.

Banalidades

Estava chovendo e eu precisei ir ao correio. A bateria do celular estava fraca, então, eu não pude levar meus fones de ouvido. Sem nenhuma distração na caminhada de nove minutos, prestei mais atenção a quem vinha na direção oposta com guarda-chuvas. Alguns me davam passagem, outros fingiam que eu não estava ali.

Chegando ao local, as portas estavam fechadas. Disfarcei como se não tivesse a intenção de querer entrar e chequei o horário que o correio funcionava na Internet. Faltava meia hora para abrir. Por um momento, me deu vontade de ir pra casa, beber uma água e depois voltar só pra não ter que ficar totalmente parada esperando…

Mas, ali fiquei. Estava chovendo. Um senhora passou lentamente com uma espécie de saco plástico na cabeça. Um rapaz estacionou o carro, acho que vinha da academia. Duas amigas pararam próximo de mim com mais três crianças – a menina de uns quatro anos, toda delicada, o menino de mesma idade tentando fazer o bebê que estava no carrinho sorrir. Uma das mães fumava e falava no celular. Eles tinham o sotaque forte da região norte de Dublin.

Um senhor solitário sentado num café pareceu estar me olhando, eu disfarcei. Percebi que eu tinha um sorriso bobo no rosto por causa da brincadeira das crianças, talvez ele estive curioso ou pensando que eu sorria pra ele. Logo, um rapaz passou com o cachorro em frente ao senhor. Por algum motivo, o cachorro amou cheirar as mãos do senhor do café. Eles brincaram um tempinho, o rapaz interagiu com o senhor, que pareceu se sentir um pouco mais vivo.

A outra mãe que não fumava se despediu da amiga, levando a menina. O menino ficou observando elas partirem até sumirem. Ele tinha um guarda-chuvas na mão e começou a balançar energicamente, fazendo o bebê gargalhar. Assim os dois ficaram por alguns minutos, a mãe no celular.

Enquanto os trinta minutos passavam, eu lembrei o quanto era observadora na infância. Mas hoje sinto até uma certa ansiedade só de pensar em sair à rua sem um fone de ouvido para me distrair. Achei que podia escrever sobre isso. Tinha esquecido o quanto o cotidiano me atrai, essa coisa de observar a vida comum. Ver pessoas em sua espontaneidade, quando elas nem percebem que alguém as observa – sinto que tem alguma beleza ali. A beleza de não ter a necessidade de ser belo, nem útil, nem nada. Apenas ser.

Renata em licença poética

E agora, Renata?
O curso acabou,
a luz aumentou,
o tempo zuniu,
a noite gelou,
e agora, Renata?
e agora, você?
você que mora longe,
que sente falta de todos,
você que faz desenhos,
que ama, detesta?
e agora, Renata?

(…)

Com a chance na mão
quer arrebentar a porta,
mas ainda aguarda morta;
quer surfar no mar,
mas a ousadia secou;
quer ter uma casa,
Ela disse que não casa jamais
Renata, e agora?

Se você falasse,
se guitarra tocasse,
se você cantasse
a lambada paraense,
se você viajasse,
se você corresse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é forte, Renata!

Perdida no mundo
sempre bicho-do-mato,
sem tanta sincronia,
um tanto ingênua
no modo de falar,
sem cavalo manco
pra fugir a galope,
você marcha, Renata!
Renata, para onde?

Controle

Quando você se sente
Sei lá, por um tempo eu
Adormeci
Meio que
Esqueci
Sabe?

Faltavam (faltam) palavras
E para que diabos recuperá-las?

Estou lendo esse livro sobre tempo. E nele se explica que não existe exatamente passado ou futuro. Quando você lembra do passado, na verdade, é o seu presente fazendo uma interpretação de partes que estão na sua memória hoje.

Não é que faltam palavras
Talvez falta parar. Falta beber um vinho comigo mesma.
Me perdoar.

Sei lá
Não falta nada não.
Falta sim.
Viu só? É um vai que volta
Para!
Se solta!

10 anos

Do nada, depois de exatos 10 anos, resolvi voltar por aqui. haha

Foi bom reler e rever aquilo que eu sentia na época. E é bom sentir de novo aquela euforia de escrever de novo… tanta coisa pra dizer, tanta coisa bloqueada.

A gente se perde, às vezes. Por bastante tempo, deixei de lado o que eu gostava de fazer. Escrever, por exemplo. Acho que eu tenho me cobrado demais. E agora a gente está atravessando uma pandemia, o que eu esperava sentir? É preciso encarar de frente as coisas. Acho que vou cortar meu cabelo. Meditar, correr. Escrever. Vamos ver.

Aleatória

Uma pequena divagação aleatória. Vocês já notaram o quanto é gigante esse universo e o quanto o sentido de “tempo” é complexo, certo? Já notaram que ainda assim existem “segundos” muito mais significativos do que “anos”? Que existem bilhões de pessoas e você pode nem ser tão importante assim, talvez – aquela ideia de ser só uma gotinha no oceano. Mas quando é fácil lembrar de alguém que passou na sua vida por anos ou por apenas uma noite e que conseguiu transformar algo significativo em você, começamos a pensar que sim, cada pessoa é importante. Cada um é pedacinho desse tecido maior chamado mundo e que cada açãozinha que ela faz agora é importante para alguém que é importante para alguém que é importante para outro alguém. Então, perceba-se importante nesse exato momento. Porque simplesmente você é.

De 2018

O coração cheio de rosas tem

Não sei o que você viu em mim, são tantas diferenças. 

Você com seu jeitinho de francesa que gosta de vinho branco e eu tomando cerveja.

Esse seu nariz lindo de mulher que gosta de artes e Adidas sujo

Faz belo par com olhos escondidos pela franjinha de menina que brinca com tudo.

Não aguento esse sotaque e fico boba olhando você feliz comendo qualquer coisa, pegando o sushi com a mão, compartilhando seu prato comigo.

Nem sei se é melhor do que ver você cantando alto, sem se importar com nada.

Ah menina, o que eu faço com esses pensamentos?

Não consigo esquecer o cheiro do seu cabelo e a imagem das suas costas nuas. Fico lembrando meu beijo deixando você cada vez mais fluida. E também da hora que você se livrou da meia-calça preta no meio da sala, acendendo minha vontade a cada vela que você acendia.

Interessante… tudo o que aconteceu nessa noite, minha imaginação já tinha criado antes. Foi incrível viver isso com você.

___

Imagem: capa do álbum Isteri de Our Samplus

Texto escrito em 2019, perdido em um caderno por aí.

Estrangeira

Imagem

Sinto saudades de ser eu
de reencontrar minha nova forma
há tempos ando pensando nisso
não mais me identifico comigo
preciso reencontrar minha expressão pessoal
sinto que ela sempre se vai de mim
eu a perco, logo depois que a encontro
os minutos que tenho com ela são poucos
tão marcantes que depois me sinto vaga

aonde ela está? aonde esteve?
aquela garotinha que sentava no chão,
apoiava seus rabiscos e cotovelos na cama
e fechava as portas para ninguém entrar

aquela garota de all star
que perambulava sozinha
mochila, filmes e luar

aquela que adorava o Kundera,
Machado, Joyce, Bandeira

há tempos que me sinto embargada
preciso repensar
a linguagem que pressinto
é essência que não pode escapar

Lírios

Imagem

Os riscos do vinho sobre a mesa

caída a taça no chão

estilhaços de suspiros apertados

os lençóis lentamente arranhados

pelos, pés, coxas e braços

 

não se sabe das horas, das músicas

apenas se sentem as linhas que fazem as unhas

desenhando em suas costas

simples coisas que jamais serão ditas

 

pra quê pronúncia a vagar pelo ar?

se o sentido você já sabe ler

meu silêncio é o que se vê

eu te desafio a me amar

Reinventar

É meu anseio
Fazer das cores, novos bordados
Músicas antigas, remixes de um novo sol.
Mudar, mas não totalmente
Não se deve mexer na essência
A sua raiz é a sua força, é o seu eu.
Quero juntar os meus sentidos
E provar dos novos gostos
Texturas, sotaques e cheiros de chuva.
E ao aliciar novas e velhas formas de pensar
Só espero que minha ânsia de renovação
Demore um pouco para recomeçar.

[Figura adaptada do livro especial da minha infância O Barquinho Amarelo de Iêda Dias da Silva]

Fome

O que é melhor pra mim? Viver a MINHA vida. Buscar as coisas que eu quero pra mim, descobrir o mundo com todas suas vitórias e fracassos e com os meus próprios passos. Ora, ser o que eu sou. E o que eu sou? Sou essa pessoa que não tem medo de ir atrás do que quer.
Cansei de viver às sombras. A gente nunca faz ou se torna algo sozinho. Mas, eu quero escolher meu próprio caminho. Sem esperar pelas decisões do outro. Cansei de só ter algo depois que outra pessoa acha que eu devo ter. Eu quero arriscar minha vontade e a opinião dos outros é válida sim, mas a decisão final eu quero pra mim, é minha.
Não quero ser egoísta. Não vivo sozinha, não conquistei nada sozinha. Sou eternamente grata pelas mínimas coisas que já fizeram por mim, muitos nem mesmo sabem que fizeram. Preciso e quero muitas pessoas por perto; mas não é a distância geográfica que me fará parar no tempo e me acorrentar no marasmo de mim mesma.
Eu quero essas calçadas. Eu quero esse vento. Eu quero esse calor, o frio, tudo o mais que a vida pode nos dar.
Dinheiro, profissão. Não é só isso. Não estou só buscando preencher um currículo, quero preencher minha vida, meu espírito, minha vontade, minha fome de ir.
Estou sorrindo pra vida e nada está me segurando. Eu não estou fugindo. Estou me encontrando.

Careta de beijo de peixe

Gosto de você no seu jeito mais normal de ser. Seu charme encanta, mas é do seu cabelo embaralhado de sono que eu gosto mais. Do seu olho inchado ao acordar. Do seu cheiro de um dia inteiro de trabalho.
É do seu sorriso tímido. Dos braços cruzados e da testa enrugada. Do olhar de reprovação ou tentando me ignorar. O suor das mãos nervosas, o semblante de tensão sem saber me abraçar.
Seu jeito de falar com os cachorros, de chamar a mãe, de fazer dengo por um pedaço de bolo. O jeito de cantar errado ou de não saber o que me dizer. O jeito de dormir, de respirar, de me sentir.
É do seu jeito sem máscara que eu gosto, daquela foto mal tirada, do olhar assustado, da boca cheia de pão. É engraçado pensar assim, não que eu não goste de você na sua melhor roupa e com o seu melhor perfume. Mas o meu gostar é tão grande que não importa se você faz careta de beijo de peixe. O meu sorriso já é teu. E não há quem tire.

I also can see what you see


Posso sentir tua euforia ao ouvir minha voz
Posso sentir a saudade no teu olhar
A vontade de me ter
Ao teu lado, perto do teu peito
Perto dos teus braços que me puxam para o teu beijo
Olhe nos meus olhos
Com as mãos entrelaçadas nas minhas
Deixe o mundo girar e se perder
E sinta que tudo isso eu também sinto por você

Madness

É como o ar daquela música que nos faz fechar os olhos e flutuar em pensamentos
Como o calafrio que percorre o corpo inteiro em câmera lenta
Como a respiração pausada e o silêncio que nos faz sentir o sangue nas veias
É o seu olhar
Que adentra meu mundo
Sorrateiro, invade, se enterra
Lentamente me acho nas nuvens, nada vejo, nada penso
Apenas sinto
Como um pedaço de papel perdido no vento, contornando o nada
Como um piscar de olhos de sono lento
Como ver a morte prenunciando a nova vida
Sentir o mundo girando vagarosamente
E a vontade apenas de continuar caindo
Leve, doce, breve

Vento

Eu sempre quis ir.
Pra onde e por que eu não sei.
Não sei que vontade é essa. Nasci com ela. Sempre quis ir embora, traçar um caminho, fazer escolhas pelo acaso, sem planejar muito e sem saber no que pode dar. Se eu vou quebrar a cara, se vão ser as escolhas erradas, isso não importa nem um pouco. Eu quero tentar.
Eu quero quebrar esse vidro que já está me sufocando há muito tempo. Quero conhecer as calçadas desse mundo com meus próprios passos.
Não preciso de um motivo. Não preciso de nada à minha espera do outro lado da rua. E eu não quero nem saber o que se encontra do outro lado da porta. Quando eu abrir, eu vou saber. E daí tudo pode acontecer.

Sentido

Eu tive um sonho.
Alguém estava morto dentro da minha casa. E ninguém sabia.

Enquanto eu perambulava, vivia minhas coisas, alguém dava o último suspiro. E só depois de eu já ter entrado no quarto onde o alguém estava morto, me olhar no espelho sem ao menos olhar para o alguém, e ter saído, é que deram conta da morte.
Quando souberam da morte, deram um jeito com o corpo. Eu não queria nem olhar, pois não gosto de ver corpos sem vida. Mas, enquanto isso, andando pela casa, achei o bebê do alguém. O bebê órfão. E comecei a cuidar dele. Ou tentar. Pois o bebê era totalmente difícil. Antes de acordar do sonho, eu dava o bebê para outra pessoa tentar dar um jeito, pois eu mesma não conseguia cuidar.

Acordei às 5h da manhã desse sonho estranho. E agora que escrevo sobre ele, uma hora depois, as coisas parecem se entrelaçar e fazer sentido.

O que eu penso? É que somos responsáveis, ou deveríamos. Há muita coisa à nossa volta e que não nos damos conta, ou não queremos. Fechamos os olhos, tropeçamos nas coisas que mal olhamos, só temos tempo para nós mesmos, para o nosso espelho. Não é preciso ir tão longe, não é preciso se sentir responsável pela fome das crianças da rua 18 da Angola. As coisas estão mais perto, estão na sua própria casa, são os seus próprios amigos que tentam estar do seu lado e você não enxerga.
Não queremos ser responsáveis. Passamos a bola para outro. Porque é difícil, porque é feio, porque não está de acordo com nossas frescuras, e o mais fácil é passar para outro, fechar os olhos e continuar perambulando sem sentido. O que não nos damos conta é que tudo o que passa por nós é para nos dar um sentido. As coisas morrem ao nosso lado, mas deixam vestígio. Não adianta fugir, a ferida pode curar por baixo da gaze, mas uma hora você vai encarar a cicatriz.

São 6h. Um novo dia nasce. Faz sentido para você?

Remix pouti pá ri

Se essa rua se essa rua fosse minhá
Eu mandava eu mandava lá brilhar
Com pedrinhas com pedrinhas de brilhante
Para o meu para o meu amor passá
Bom barquinho bom barquinho deixa nós passá
Carregado de filhinhos para Jesus criá
Três três passará
Derradeiro de ficá
Se não for o da frente o de trás será
Será será será será
Sapatinho branco que cores ficam bem
Sapatinho branco que cores ficam bem
Com quem será
Com quem será
Com quem será que a menina vai casá
É com o menino é com o menino é com o menino que a menina vai casá
Lá vem a noiva toda de branco
Lá vem o padre de cueca e tamanco
Lá vem o noivo de bicicleta
Escorregou e rasgou a cueca
Há há há há há há há há há há há há há

Renata Dias. Quando criança, cantava as músicas de modo errôneo, devido à sua audição apurada (?). Até hoje mostra dificuldades em gravar nome de música, nome de cantor e identificar as palavras cantadas de modo certo. Geralmentejuntatudoenãoconsegueouvirdireitooquesediz.
P.S.: Esse último verso (“Há há há há há há há há há há há há há”) realmente existia na minha cabeça no fim da música. Dorgas, manolo, dorgas.

Keep cooler

O que o gosto laranja
misturado no magenta
deixou para ficar
O cheiro que não se sente
a textura, o gosto
que silenciou…
O último olhar no corredor
A música repetida
silenciou…
Esse silêncio absurdo
a calmaria do ar
entre a sutileza do vento
entre os laços
separados
só mais uma vez, sem palavras por quê?
Embala meu sono, pois vou acordar
traz esses olhos de brilho
meu mais belo luar

Na historia que eu li

Passarinho se perdeu. Cansado e machucado, caiu na sua janela. Quase morto, você o viu. Suas mãos o trouxeram para si, seu olhar o cuidou com o maior carinho que se poderia ter. Protegido de todo perigo, ele se aconchegou, teve o cantinho mais confortável e dormiu.

Sonhou vivências mágicas, sorrisos e lágrimas. A dor das asas quebradas foi sumindo. E cada dia que passava, uma flor nascia na sua janela. Sem nem perceber, a chuva regava e o sol fazia crescer.

Jardim foi ficando sem espaço, até que a janela se abriu.

Passarinho voou, o vento soprou. Suas asas, tão bem cuidadas, levaram cicatrizes de um tempo bom. O melhor tempo que já viveu. E com a janela aberta, o jardim entrou, invadiu seus móveis, entrelaçou seus quadros, CDs e sofá. Você ainda dorme, mas assim que amanhecer, no abraço mais sutil, o sol vai tirar você da cama. E quando você abrir a porta… sossego bom. Passarinho se foi. Mas você ganhou toda a primavera.

Last kiss

Seria o final feliz de um filme ou o começo de um sonho?

A história de uma trilha sonora perfeita embalar devaneios e desejos. Mãos entrelaçadas, corpos deitados sobre a areia, vigiados pela lua. Você diz coisas lindas num tom de voz mais lindo do mundo. E a música canta mais alto que nossos corações, como se fosse o último beijo de um filme, enquanto vamos ficando longe, pequenos pontinhos na areia, ilusão de mar.

Se for final feliz, que seja então de um sonho. O que mais quero é acordar e te olhar nos olhos.

Impressões pessoais sobre Ouro Preto


Os poucos dias que fiquei em Ouro Preto me deixaram totalmente encantada com a cidade. Gosto dessa atmosfera antiga, de me desvirtuar do presente e pousar num flash do passado.
Andar por aquelas ruelas de infinitas ladeiras, feitas de pedra sabão e calçadas mínimas, era uma volta no tempo. Uma cidade sem outdoors, e sem lixos na rua. Lojas sem painéis luminosos. Por fora da loja, o máximo que se tem é uma plaquinha pendurada com o nome do estabelecimento, como se fosse escrita à mão.
Escadas e pisos de madeira. Janelas sem grades, onde as pessoas pousavam-se para ver o fim da tarde. Flores de decoração.
E o que são aqueles restaurantes? Os cafés e chocolatarias? Feitas num capricho simplório mais do que perfeito. O fascínio começa pelo atendimento, passa pelas paredes, o cheiro, as toalhas, a música, especialmente o jazz, e vai se esgueirando pelo cardápio e o sabor que se sente na boca.
Talvez, não seja lugar para ser minha moradia, nos dias de hoje. Ainda estou eletrocutada pelas buzinas, prédios e empenas. Acho que sentiria falta de um supermercado 24h. Mas, com toda certeza, é um lugar maravilhoso para aquietar os olhares, conhecer belos sotaques e histórias de vida.

__________________
Ouro Preto é uma cidade histórica de Minas Gerais, reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade
Fotografia: Débora Tavares Alves
Edição de fotografia: Renata Dias

Coleção da infância – 02


Estava eu pensando sobre as maldições / coincidências que ocorreram com pessoas ligadas às produções de filmes com temas demoníacos e lembrei-me do filme The Omen (A Profecia).

Procurei no Google e percebi que a versão que assisti era um remake. E que a versão original de 1976 é muito mais interessante. Fiquei com vontade de ver.

E, assim, lendo sobre o filme, de repente lembrei que quando criança escrevi uma história bastante parecida. Não sei se na época vi o filme de 76 e fui influenciada e escrever ou sei lá, é muita coincidência. A verdade é que não lembro mesmo de ter visto a versão de 76.

Enfim, compartilho com vocês mais um texto que escrevi na infância. Um tanto sanguinário para ser escrito por uma criança de dez anos, mas ok. Ri demais.

Foram muitos Cinema em Casa de influência, que na época não tinha classificação por idade.

FIZ QUESTÃO DE DEIXAR OS ERROS GRAMATICAIS, DE CONCORDÂNCIA, PLURAL, VERBO E TUDO MAIS. Divirtam-se!

O espírito mesterioso

Havia uma vila muito pobre sem alegria e muito menos movimentada.
Ana e José, moravam lá. Eles era casados.
Ana estava grávida de seu primeiro filho.
Ana brigou com Jose às 11:30 da noite. Eles se batiam e gritavam, faziam um escândalo danado.

Ana saiu de sua casa, e foi procurar um lugar para entrar e descansar. Mas o único lugar que ela achou aberto foi o cemitério.
Ela entrou, e no meio do cemitério, havia uma cepultura com uma caveira, tinha chifres, cauda e segurava alguma coisa na mão. Ana tão assustava saiu correndo, e teve uma dor na barriga, quando ela olhou a sua barriga estava se mexendo demais, parecia um plástico mole, com alguém querendo sair, mas não conseguia e empurrava.
Ana não se sentia bem, e foi para o hospital, só que estava fechado.
Ana voltou para casa sem discutir com José, e descansou em sua cama.

De manhã cedo ela foi tomar café da manhã e não conseguia engulir, uma vez ela conseguiu mas se engasgou.
Passou meses e aos nove meses Ana foi para o hospital antes de dar a dor.
Quando ela chegou com José no hospital, se sentiu-se mau, e José chamou o doutor.
Tiraram seu filho, mas na hora foi muito estranho, o bebê não chorou e os médicos não mostraram o bebê, e conversavam no ouvido sem que Ana ouvisse.
Ana achou que o bebê havia morrido.
Mas no outro dia os médicos pegaram o bebê com luvas na mão, porque o bebê era igual a caveira que Ana tinha visto no cemitério, com chifres, cauda e uma coisa na mão, muito estranho. Os médicos colocaram numa caixa e o enterraram no cemitério. Depois foram direto para o orfanato e adotaram um bebê bem novinho.
Chegaram no hospital e deram para Ana, Ana ficou tão feliz pelo seu bebê maravilhoso.

Quando Ana colocava-o no berço e ia cozinhar, um espírito dizia para o bebê:
– Você não vai viver por muito tempo, seu menino horrível.
E começava a biliscar o bebê, ele chorava e Ana ia ver o bebê estava todo vermelho.
Ana o levou para o hospital, os médicos não viram nada de mau no menino, só disseram que ele podia ser alérgico.

Lucas (que era o bebê) desde aos 4 anos, quando andava pelo corredor de sua casa, via um espírito horrível. Depois ele ia para cama e tentava dormir. Mas não adiantava, porque Lucas sonhava que estava sendo atacado pelo espírito do mal.
Os únicos que sabiam deste espírito, era os médicos que o enterraram.

Um dia, o espírito pegou pelo pescoço de Lucas e o enforcou, ate Lucas desmaiar.
Ana havia saido e José também, apenas a babá de Lucas que estava lá.
Quando a babá de Lucas foi varrer o seu quarto viu o Lucas desmaiado, Maria (a babá) não sabia o que fazer, pegou o telefone e ligou para o hospital. Os médicos chegaram e curaram Lucas.
Quando Ana e José chegaram, perguntaram se havia acontecido alguma coisa de errado, Maria disse meio triste para seus patrões:
– É, sabe que aconteceu, seu filho demaiou e eu chamei os médicos, e eles curaram Lucas.
Ana desesperada perguntou o motivo do desmaio, e Maria respondeu que não sabia, só tinha visto ele caído no chão.

Uns meses depois o espírito começou a aparecer aos médicos que o enterraram, ele dizia:
– Vocês são uns ediotas! Porque me enterraram se eu estava vivo.
Um dos médicos respondeu:
– A gente já sabia que você surgiu no mundo, apenas para fazer o mal.
– Por isso vou me vingar de vocês, de Ana e de Lucas – disse o espírito.
– Não! Não mexa com Ana e nem com Lucas, eles não tem culpa, quem tem culpa somos nós por ter te enterrado vivo!
– Mas o Lucas tomou o meu lugar, e por causa disso vou matá-lo.
Alguma voz alta falou:
– Doutor Marcos, urgente ir para a sala de parto, uma mulher está quase morrendo de dor.
O doutor Marcos foi abrir a porta do escritório para sair, e o espírito fez uma mágica para Marcos quebrar as duas pernas. Um dos médicos gritou:
– Não! Você não merece viver, seu espírito malvado!
– Obrigado pelo nome, eu precisava de um nome: malvado, ra ra ra ra!

Depois disse ele vestiu a roupa do doutor Marcos, e foi para a sala de parto, fazer uma coisa incrível, sabe o quê? Ele ia matar a mulher. E na hora que ele chegou meteu uma faca na barriga da mulher e matou os outros médicos que estavam lá.
O espírito mesterioso, foi para casa de Ana.

Quando chegou lá, a primeira coisa que ele fez foi matar Maria. O espírito mesterioso, estava bagunçando a casa e fazendo barulho para que alguém fosse ver e ele matava. Mas ninguém foi. Então ele foi procurar, só achou José dormindo. Depois ele sumiu pela janela.
Só num dia ele matou 54 pessoas, só para se vingar, porque se ele estivesse vivo, com seu corpo de carne, ele ia matar menos.

No meio da rua ele encontrou Ana com Lucas fazendo compras, ele aproveitou e agarrou Lucas e botou uma faca quase encostado no pescoço e gritou:
– Me dão todo o dinheiro se não mato este menino!
Todos deram. Mas não adiantou, ele sequestrou Lucas. Ana seguiu eles.

Quando o espírito ia matando Lucas Ana chegou e gritou:
– Solte Lucas, e diga quem você é.
O espírito disse:
– Oi mamãe, como vai? Acho que chegou a hora de você saber a verdade.
Ana não prestou atenção para ele e gritou de novo:
– Solte meu filho! e te dou todo meu dinheiro!
– Seu filho sou eu e não Lucas. Vou contar tudo para você saber que Lucas nunca foi seu filho. você se lembra que quando eu nasci eu não chorei, e os médicos não te mostraram o bebê. É que eu era muito feio e continuo sendo, com chifres, cauda e dentes afiados. Eu sou feito pelo DIABO para fazer o mal. Depois eles me enterraram e adotaram Lucas para você. Mas meu espírito está aqui, com poderes, e quero me vingar daqueles médicos, de Lucas e de você (mamãe).

Mas na hora que o espírito do mal ia matando Lucas, Ana desmaiou e os médicos com os policiais chegaram.
Os médicos estavam tentando acordar Ana, e os policiais meteram fogo no espírito do mal, e Lucas começou a chorar.
Ana acordou e abraçou Lucas.
Mas o espírito não morreu e atacou um dos policiais. Outros policiais ajudaram o outro e jogaram fogo no espírito outra vez. Mas não adiantou.

No pensamento de Ana estava dizendo a ela se lembrar da caveira daquele cemitério. Ana se lembrou que estava escrito na caveira que se misturasse sal com água os espíritos morrem de novo, e para sempre. Ana pegou numa casa ao lado, enquanto eles brigavam com o espírito. Ana pegou e jogou no espírito, mas antes ela falou a ele:
– Eu acredito que você é meu filho verdadeiro, mas tenho que te matar, para não prejudicar as pessoas. Adeus meu filho malvado, que vá para o inferno!

De repente ele sumiu, e deu uma paz nos corações.
Ana foi para casa chorando, desesperada com Lucas no seu colo.
E a perna do doutor Marcos voltou a ser normal.

Passava anos, e Ana nunca esqueceu daquele filho que ela teve, que ela mesmo o matou. Mas ela tinha um filho educado, quieto sem reclamações, mesmo não sendo dela, ela o amava mais do que o amava antes. Ana não tinha sempre seu sorriso, toda vez que falavam a palavra filho, ela se lembrava de seu filho criado pelo DIABO, que ele se foi, para o inferno.

THE (O) END (FIM)
ATENÇÃO! Nunca diga a palavra diabo.
Autora: Renata Tavares Dias
livro: o espírito mesterioso.
feito no dia: 1-6-98 e terminado no dia: 2-6-98

Lapsos


“O tempo passa e nem tudo fica
A obra inteira de uma vida
O que se move e
O que nunca vai se mover”

Frio na barriga ao saber que cada dia que passa é um dia perdido, um dia que se foi e que você deixou de fazer muitas coisas.
A vida entre os dedos. A gente sopra e ela vai longe. Chances que temos e não usamos. O fim pode ser exatamente agora. Pelo menos o fim que conscientemente pensamos ser.
Tenho medo de que daqui a dez anos eu não seja o que imaginei. Medo principalmente de me arrepender de não ter feito algo.
Mas, os dias passam, e deixo muito do que gosto e quero aprender para trás. Há sempre compromissos à frente, compromissos, aliás, que eu mesma os coloco na frente.
E assim, vai. A cada dia perco e renovo chances. Até o dia em que só perderei.

Cinco coisas que você não sabia sobre mim

O Entrelaces é um blog um tanto estranho. Dizem que o que a gente escreve, por mais que seja fantasia, é reflexo do que somos e pensamos.
Mas, neste post serei assumidamente eu. Um tanto piada. 😉

1- Eu me escondia quando estava aborrecida
Quando criança, se alguém brigava ou dizia qualquer coisa que me afligia (não precisava ser grande coisa, sempre fui muito sensível, rs), eu logo procurava um lugar sossegado para me esconder. Ficava lá, de braços cruzados, segurando o fôlego na boca. Até hoje, quando me aborreço, minha primeira vontade é fugir e deixar tudo pra trás. Covarde!

2- Sempre sentia falta dos meus amigos
Eu mudava muito de escola. A cada ano, ou dois anos, eu trocava de escola. E sempre que isso acontecia, eu sentia saudade dos amigos que deixei para trás, julgando-os melhores que os novos amigos, até quando, mudava de escola de novo, e tudo se repetia. Hoje, ainda sou do mesmo jeito. Se estou em Belém, sinto falta dos amigos de Tucuruí. Se estou em Tucuruí, sinto falto dos amigos de Belém.

3- Eu me odiava na adolescência
Acho que todo mundo na adolescência fica revoltado e procurando algum defeito, mesmo que não seja propriamente um defeito, para poder se odiar. Mas, eu exagerava nisso. Achava-me menor em tudo que fazia. Tornei-me extremamente tímida devido às minhas acnes no rosto. E sempre achava que ninguém gostava de mim. Hahaha

4- Eu me achava gorda
Eu não era nem um pouco gorda, nem “cheinha” e ainda não sou. Mas, eu me achava.

5- Acordar
Eu não era assim. Isso foi acontecendo aos poucos, desde o ensino médio, onde tinha aula de manhã e à noite. Comecei a querer aproveitar todo o tempo que tinha pra dormir, já que não tinha mais tanto tempo assim. E na universidade, fazendo dois cursos ao mesmo tempo, fora os estágios, eu comecei a odiar acordar. Todos 5 minutinhos a mais na cama eram válidos. E até hoje o som do despertador é a pior coisa do mundo para mim.

Bom, pessoal. É isso. Acho que foquei muito no “odiar”, né? Mas, eu sou uma pessoa legal e feliz. Juro. Hahaha